Finalmente um leitor tomou coragem e resolveu se revoltar e me escrever.
O post de hoje é a carta de uma leitora e amiga de longa data, com os devidos comentários da minha parte, sendo o seu objeto de tamanha irritação o nosso caótico e principal meio de transporte no Rio de Janeiro: os ônibus coletivos. Um sistema em franca decadência e que não acompanha o crescimento da cidade. E ainda tem as idéias de jerico dos xerifes maluquinhos, dentre outros para otimizar o sistema e lucra mais e dar mais lucro. Sim, Branca, os ônibus me irritam também. Talvez menos do que a você por uma questão de opção e em parte, sorte.
Meus comentários estão em laranja. Tomei a liberdade de criar alguns parágrafos afinal, você não é José Saramago pra fazer essa loucura de textos sem quebras, vírgulas e parágrafos. Já a pontuação liguei o foda-se ou não ia ter tempo de comentar tudo...
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Fazendo um favor a minha amiga Mary, que mal conhece este estilo de transporte “arcaico” e do proletário, vou escrever minhas visões sobre o mesmo.
*PAUSA*
Ao contrário do que você diz em suas primeiras linhas, “mal conheço esse estilo de transporte” é uma falácia. Eu não nasci em cima de quatro rodas. Tive carro por algum tempo e voltei a ter agora e por MUITO tempo meu meio de locomoção foi ônibus.
Como nunca gostei e nunca tive saco, as escolhas da minha vida foram sempre voltadas a diminuir ao máximo o meu tormento nele.
Vamos ver, minha primeira faculdade foi... UFRJ. E não foi no centro não. Foi na famigerada ILHA DO FUNDÃO. Naquela época, ônibus pela linha vermelha era raridade então... todos os disponíveis iam exclusivamente pela Avenida Brasil, pegando todo o trânsito possível e imaginável numa linha reta.
Você acha que não sonho o que seja transporte urbano porque você me conheceu em 2001, já no fim da segunda faculdade e com dois carros dentro de casa, o que me conferia alguma mobilidade.
Voltemos no tempo a 1994.
Sim, 15 anos atrás eu estava indo pra UFRJ todo santo dia, e tinha aula às 08:00. Sabe que horas eu tinha que estar na Leopoldina? Antes das 07:00. O ideal era 06:30 mas não sou de ferro. 322, 324, 346 eram meus algozes por MAIS DE UMA HORA, e INVARIAVELMENTE EM PÉ. Sim, eu fiz isso durante 3 anos da minha vida.
Pior do que isso? QUATRO-OITO-CINCO (485), essa é a capeta airlines terrestre, o cão do transporte público.
Quente como um inferno, motoristas doidos (andavam em zigue-zague para não reduzir nos quebra-molas), tire um pé do chão e você fica no ar. Lindo né? Pois ele levava mais de uma hora da Leopoldina até a UFRJ.
E de noite, pra voltar? Show de horrores. As aulas terminando às 18:00, nunca saía antes das 18:30 e nunca conseguia chegar em casa antes das 20:00. Com fome, suada, imunda.
De lá pra cá jurei que minha vida seria voltada pra meu bem estar, então, minhas escolhas seriam feitas, em parte, pela logística de minha vida, menor tempo, melhor rendimento.
Eu moro no coração da zona norte. Fico por aqui, pelo centro, às vezes zona sul. Você pode falar ah, preconceituosa, não vai para subúrbio? Digo não, a não ser que o metrô chegue ou que alguém me dê carona. Mas também não vou à Barra. Puro e simples, escolha.
Não gosto de trânsito e não gosto de andar por onde não conheço. Ponto final. Mas continuando...
* VOLTANDO*
Eu como uma grande maioria dos trabalhadores do mundo, utilizam este transporte muitas vezes infernal e totalmente sem noção e perigoso chamado ônibus urbano.
Digo infernal pq quem nunca perdeu um compromisso pq o FDP do ônibus demorou mais que o esperado? Ou passou lotado demais e não parou no ponto? Ou pior, o motorista “andou” pra vc se sacudindo, igual a uma crise convulsiva no ponto de tanto dar sinal pra chamar a atenção do infeliz e ele passa direto, e ainda ri da cara do babaca que tentou fazer ele parar e perder o “tempo “ dele. Sim, pq a grande maioria deles tem “tempo de percurso” e tem de seguir a risca o maldito. Mesmo que signifique deixar alguns infelizes passageiros para trás. E alguém já ligou pra reclamar deles pra ouvidoria das empresas de ônibus? Eu já tentei e nunca consegui.
Pois é. Fica só na musiquinha maledita e eles nunca tem algo de útil a fazer por nós.
Fora que, alguns motoristas se sentem os “donos” da rua. Aí entra o nome perigoso. E coitados dos carros e principalmente motos que tentem ultrapassá-los. E eles estão sempre certos, afinal são maiores e no mundinho deles o maior sempre tem razão. Um dia, estava eu voltando do meu trabalho tranquilamente de cabeça baixa lendo, com o motorista correndo na velocidade da luz com o dito cujo, e de repente surge em cima de mim uma chuva de vidro, milhares de pedaço. Eu assustada, olho para o lado, achando que alguém atirou uma pedra no vidro com raiva pq o bus não havia parado (já vi isso acontecer), porém, milagre......
Os vidros estão intactos. Com cara de retardada maior ainda, e com a maioria dos poucos corajosos passageiros me olhando perguntando se eu me machuquei e a senhora que estava do meu lado com uma criança de colo dormindo também, eu disse que não, que tinha sido só o susto e que eu não havia me cortado.
Aí, o dono da razão (o motorista), começa a xingar o outro do ônibus que vêm atrás, para no meio da rua e começa a discursão: os 2 semi Deuses tavam discutindo pra saber quem estava errado, o meu que passou a 500 por hora ou o outro, que estava manobrando pra sair do ponto e não viu que o outro vinha embalado atrás. Resultado, os 2 retrovisores (do meu ônibus o da porta e do outro o do lado do motorista) simplesmente pulverizados pela força do impacto. E aí descubro de onde veio a chuva de caquinhos de vidro misteriosa. Se eu contasse todas as histórias.....haja blog...
Agora, quanto aos passageiros, também é um capítulo a parte. Fico mortificada com a falta de educação e humanidade de alguns. Tirando os sem noção que viajam escutando música no volume de trio elétrico carnavalesco, as crianças que vêm das escolas e aproveitam a ausência de responsáveis pra fazer bagunça no ônibus (e dependendo da região que o ônibus transita, é até perigoso vc repreender severamente uma criança dessas, pois não saber de “quem” elas são filhos), os pedintes, os vendedores ambulantes com aquele texto básico que todo mundo que anda de bus conhece, os engraçadinhos que tentam se aproveitar do aperto pra apertar as mulheres e até os homens Tb (já vi Tb um cara ser entregue pelo motorista na delegacia, ele era conhecido como o tarado do 485)...bem,é uma “torre de babel” andar de ônibus.
Me engana que eu gosto!. DUVIDE que você consiga ignorar aqueles idiotas ouvindo funk no últio volume e achando que estão arrasando. Eu adoro ouvir música alta, faço isso na MINHA casa.
Por incrível que pareça, assaltos são coisas esporádicas hoje em dia. Afinal, é mais lucrativo vender droga que assaltar um bus e ser reconhecido na rua (há poucos dias saiu no jornal O dia: uma mulher foi assaltada no ônibus quando estava indo pra praia. Quando chegou lá, reconheceu o assaltante na praia tranquilão pegando sol e chamou a polícia e o infeliz foi preso) ou fazer merda dentro do ônibus e quando chegar à favela ou morro ser disciplinado pelos chefes. O que me deixa com profunda decepção são as pessoas que não pensam nos outros.
Vou explicar melhor: alguns dias no mês trabalho em um hospital a noite, e vou pra barra pegar um bus até este hospital pq é mais rápido ir pela via expressa. Até uns 2 anos atrás, a galera da baixada e de municípios ao redor da cidade do rio, se precisasse ir pra barra ou final da zona sul, penava. Tinha de pegar 3,4 bus até lá.
Hoje, por intermédio e olhar lucrativo da prefeitura e de algumas empresas de transporte, já existem ônibus direto da maioria dos municípios que fazem divisa com o do rio de janeiro e da baixada fluminense. E então, quase sempre vejo essa cena. A maioria que o ônibus avança sobre os pontos, ele vai enchendo.
Quando chega nos últimos, próximos a entrada da via expressa, ele está geralmente cheio mas não lotado. E começa a gritaria com o motorista, xingando o coitado e quase obrigando ele a não parar para as pessoas que estão no ponto esperando. Acho um desrespeito gigantesco. Com o motorista que está fazendo o serviço dele direito, e com os passageiros que estão do lado de fora. Afinal, todos querem chegar em casa logo pq no outro dia a maioria tem de acordar de madrugada pra trabalhar novamente.E sinceramente, não é da conta de ninguém o que cada um tem de fazer em casa. Afinal, quem mandou nascer e ser pobre e não ter e não querer estudar e se mudar pra um local melhor? Ou comprar um carro? Ou arrumar um emprego que não tenha de acordar de madrugada pra poder pegar o ônibus?
Ai depende muito. Eu trabalhei em Itaboraí 3,5 anos de minha vida. É mais longe que o Fundão, mas é na contra-mão do trânsito, ou seja.. 40 minutos num frescão mais barato e velz que até a Barra da Tijuca. Isso se chama OPÇÃO, eu podia ter ficado no Rio mesmo, me espremendo no metrô e no busão, me estressando nas ruas cheias mas decidi agarrar uma oportunidade fora do Rio.
Quando fui aceitei o emprego, todos me curcificaram a família inclusive: louca! Vai pagar pra trabalhar! E ainda por cima na puta-que-o-pariu? Num lugar pobre, cheio de gente pobre e miserável, onde não tem um comércio decente nem nada? É isso aí, Itaboraí, onde fui trabalhar.
Local mais pobre que conheci na vida, mas uma pobreza diferente da favela. Trabalhadores rurais, gente honesta, humilde que não tem grana pra um busão e anda A PÉ. Que aceita 1 real pra capinar meio fio um dia inteiro. Ali vc não vê esse povo obeso que se diz "pobre" e que lota os coletivos pedindo esmola pra encher o rabo de refrigerante e biscoito.
Você vê gente em PELE E OSSO que vibra quando acha um pé de mandioca no meio do mato, acha uma galinha perdida, fruta ou coisa parecida. Ele não tem IPOD, nem celulares, nem telefone, nem água encanada, muitas vezes nem luz. E são educados. SEMPRE.
Logo não tenho nada contra pobre e contra pobreza. Tenho contra gente favelada. E por favelado não entenda quem mora na favela, mas quem não tem educação, não tem noção e não tem consideração pelo próximo.
Hoje em dia as ilustres senhoritas e senhorito que me criticaram aprenderam por A+B que a verdadeira Puta-que-o-pariu fica é na Barra da Tijuca...
Mas, existem algumas boas almas nos ônibus. Já vi motoristas estacionarem os ônibus pra ajudar passageiros idosos e deficientes, alguns educados que falam bom dia e boa noite. Que são atenciosos quando os passageiros lhe fazem alguma pergunta sobre o trajeto...
Sim existem, e pra esss eu dou os meu sorrisos e agradecimentos, an entrada e na saída. Sempre. Por que gentileza gera gentileza.
Eu mesma durante a faculdade utilizei por dois anos um mesmo ônibus nos mesmos horários. Conheci todos os motoristas e trocadores desse período. Muitas vezes eu voltava dormindo, e eles me acordavam quando estava perto do meu ponto. Já fui até uma vez repreendida por um porque não peguei o ônibus no horário e ele ficou parado no ponto, me esperando por 10 minutos achando que eu estava atrasada e pra impedir que eu perdesse o último ônibus e tivesse de pegar outros 2 pra conseguir chegar em casa.
E passando só por “pontos famosos” do rio: Parada de Lucas, cidade alta, pavuna, acari, complexo do alemão, jacaré, .... E eu estudava na contramão da maioria da população. Eu moro no centro do Rio e estudei na baixada, porque no meu curso a melhor universidade particular ficava exatamente lá.
E agora saio também em defesa dos mesmos. Estes microônibus ou os micrões (que se não me engano estão numa disputa judicial com a prefeitura por conta do numero de lugares) são uma tentativa de assassinato. Do motorista e do passageiro. È um absurdo obrigar o motorista a exercer duas funções, trocador e motorista.
Concordo em gênero número e grau. Querem fazer economia com a cartola alheia. Tiram o cobrador, aumentam a obrigação do motorista. Aumentam o salário? DUVIDO.
Cadê as leis de trânsito? Sabe aquela que diz que o motorista tem de manter as duas mãos ao volante, com exceção da hora da troca de marcha? E a que diz que o mesmo tem de manter constante atenção a sua frente e aos retrovisores? Pra que fazemos aquela PORRA de aula chata e maçante, como um purgatório antes de conseguir passar pelos carrascos do DETRAN e tirar o tão sonhado passaporte de liberdade (vulgo direito de ir e vir e Tb conhecido como carteira de habilitação)? Quer ver como é? É só pegar um deles. Ainda mais se estiverem atrasados no “tempo de percurso”. Eles pegam o dinheiro da nossa mão, dirigem, passam a marcha, conferem o troco, TUDO AO MESMO TEMPO!!!!!!!!!!!!
Um absurdo e falta de respeito, com eles e com a gente. Atrasam o trânsito e ainda aumentam a chance de acidentes. Acho que seria válido em pequenos circuitos, mas não é o que te sido feito.
E o passageiro em pé, se segurando como pode pq a trava eletrônica não deixa ele avançar pra dentro do coletivo e se ele fizer isso antes do pobre coitado do motorista conferir o valor da passagem, ele pode estar arrumando um problema. Afinal, não tem como o motorista dar o troco depois de passar, pela distância e tem muito engraçadinho (que é o máximo da pobreza) que dá o valor errado de sacanagem.
Outro dia, voltando à noite, cinco ótarios vindos da farra na rua, obrigaram o motorista a os deixareles passar. Foi a maior confusão. Eu me conti pra não entrar nela e dar uns sopapos nos marmanjos. Afinal, se falta dinheiro no caixa, o motorista paga. Ele falou isso pra eles, e eles riram na cara dele, querendo tirar onda. Ainda bem que faltavam apenas dois pontos, pq a voz deles me irritavam. E ainda tentaram me cantar. Eles não sabem o perigo que correram.... Rs.
Bem, seguirei após dando meus comentários sobre os outros meios de aborrecimento, ops, digo transporte da cidade.
Branca.
Pois bem Branca, ei-lo. Parabéns por ter sido a primeira a se irritar publicamente e sem medo de ser feliz. Por para fora só faz bem.
Mary
PS: Perdoem a duplicidade.
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