Thursday, May 6, 2010

Mãe?


Todo ano é a mesma coisa. Natal, aniversário, dia dos pais, dia das mães. É sempre stress, aborrecimento. Datas que todos curtem mas eu nem tanto.

Natal é aquela zona, todo mundo discute, você não fez isso, vc deixou de fazer aquilo, eu fiz tudo você não ajudou. Melhor época para reunir a família e falar de coisas agradáveis e as pessoas discutem por causa da porcaria da ceia e pra falar mal da namorada do filho ou do genro, enfim, um saco.

Aniversário é algo que eu praticamente tenho vontade de deletar do calendário, já que TODO ano nos últimos anos rola stress. Durante ANOS meu pai tinha um diacho de uma viagem com os amigos de futebol que invariavelmente caía no meu aniversário e não podia ser mudado. Isso porque era marcado com dois MESES de antecedência. Ou então minha mãe tinha casamento, bingo, chá de panela, o que quer que fosse.

Dia das mães e dos pais é outro saco, pois eles há anos cismam de almoçar no mesmo lugar chato. Que eu odeio, mas vou, mas o babaca de meu irmão se recusa a ir, aí rola choradeira, troca de acusações e eu que não tenho nada a ver ficou ouvindo a choradeira e dá vontade de ficar em casa. E a cada ano que passa torço pra esse dia passar logo.

Nos dois últimos anos minhas férias eu marquei emendando com o feriado em abril e, por isso, acabava que eu voltava no domingo do dia das mães e me safava dessa. Trazia o presente dela na segunda, a gente sa falava rapidinho e eu ia dormir. Mas sem stress.

Esse ano não vai ter salvação pois eu AINDA vou entrar de férias. E lá vou eu pro almoço chato ouvir choramingos e reclamações. Pelo menos agora eu tenho carro posso ir, almoçar e voltar correndo e não preciso ficar na parte "dançante" com aquela pessoa bizarra tocando tecladinho. E ninguém avisa ao coitado que os anos 90 acabaram há mais de uma década.

Como se tal não bastasse, aqui no meu trabalho tem o temido "mural" de fotos. Todo mundo da gerência tem que trazer fotinho, que nem se faz na escola no dia das mães, dos pais, dos avós, das crianças, dos namorados, enfim, uma exposição gratuita da sua vida privada e suas mazelas particulares que vc gostaria de deixar trancadas num baú.

E pra piorar, existe a equipe do "clima organizacional": uns pobres coitados que são convocados para ouvir os funcionários, saber do que reclamam, o que gostariam que fosse melhorado pra manter um bom ambiente na gerência. São eles quem organizam as festinhas, cafés da manhã, murais e, consequentemente, passam de mesa em mesa cobrando sua participação.

Desde que entrei, nunca pus foto. Nem de pai, nem de mãe, nem de criança, já que não tenho filho. Acho que pior era o dia dos namorados, já que estive praticamente sozinha e sem namorado desde que entrei aqui, há quase 4 anos.

Mas eles te cobram. E é um saco.

Ano passado, no dia das crianças, coloquei uma foto minha e do meu cachorro. É meu filho. Ninguém discutiu e ainda elogiaram o rapaz, que, modéstia parte, é o cachorro mais boa pinta que já vi.

Esse ano começou a moléstia novamente, pedindo foto do dia das mães. Escapei em 2008 e 2009 por causa das férias, mas fui cobrada na volta das férias para por a tal foto. Esse ano a cobrança começou na semana passada: esse ano tem que ter né?

Mãe é mãe mas eu nunca me dei bem com a minha. Não a considero um modelo a ser seguido em muitas coisas, muito embora admita que ela é uma pessoa muito honesta e correta (com os outros).

Nunca tive essa relação que filhas tem com mãe. Nunca fui de desabafar, me abrir, me aconselhar e, a única vez que fui pedir algo, ela me negou veementemente pois ela não queria, pouco se importando com o que eu queria. Na cabeça dela, criar o filho era dar café da manhã, almoço, lanche/janta, colocar na escola, eventualmente buscar e ver alguma coisa quando estava doente. Ajudar nas escola ela ajudava, mas nem sempre. Meu irmão demandava muita atenção pois não era inteligente como eu e eu, felizmente, sempre me virei. Não sei se era o que passava na cabeça dela, mas é o que eu sempre senti.

Quando precisei operar e passar uma noite no hospital, foi tanta reclamação do tipo, ah tenho tanta coisa pra fazer tô tão atolada que dispensei todo mundo e fiquei sozinha no hospital. E sem dormir. No dia seguinte, me buscaram, fui pra casa e logo depois eles saíram e me deixaram só. E foi assim durante quase todo o tempo de licença. Eu acho que o normal seria alguém ficar em casa comigo mas tudo bem.

Dia da cirurgia estava só novamente. Acordei com dor de coluna e nada, tive que eu mesma tomar providências: liguei pro meu acunpunturista, me enfiei num taxi e fui. Sozinha. Quando contei até acharam graça: ela se vira!

E as várias vezes que passei mal de noite, doente que ela dizia ser frescura? Viroses? Eu ia pro hospital de madrugada, passava a noite lá e saía de manhã cedo. E ainda recebia ligação perguntando se eu podia ir na padaria pra comprar pão. Chegar com o braço com adesivo de quem tomou injeção na veia, cheia de olheiras, arrasada e ninguém perguntar como foi sua noite ou desconfiar que você estava no hospital é o fim.

Eu tento fazer minha parte.

Depois que saí de casa acho que minha vida e meu relacionamento com minha mãe e meu pai evoluiu bastante. De motivo responsável por 90% do meu stress eles passaram a ser pais, ainda que distante. Conseguimos estabelecer uma relação de mútuo respeito, já que hoje eles aceitam e respeitam que eu sou independente e conseguimos estabelecer pequenas trocas e ajudas, mas não muitas. Eu ajudo quase sempre, a não ser que algo realmente me impeça. Eles quando dão na telha. Meu pai um pouco mais que minha mãe.

Como eles nunca lembravam de mim no meu aniversário ou natal e, quando lembravam, sempre erravam no presente, propus a troca: toma conta do meu cachorro nas minhas férias e já me considero presenteada. E funcionou.

Mas às vezes rola a má vontade: mesmo morando no mesmo prédio, não pode ir na minha casa ver algo ou levar meu cachorro porque está "cansada". Outras vezes faz, mas reclama. Mas está evoluindo. Aos poucos mas está.

Depois de anos eu posso dizer que tenho algum relacionamento com ela, mas longe de ser o que as pessoas tem e esperam. Mas eu já me conformei.

Mas voltando ao lance da foto, me aporrinharam essa semana e resolvi catar um diacho de uma foto. Pensei: escolho logo uma e guardo e ponho todo ano, talvez assim pare a aporrinhação. E cato logo uma do meu pai também.

Abro minha caixa com fotos e constato que praticamente não tenho fotos com meus pais.

Tenho uma foto, mas com os dois, na minha formatura. Algumas antes de 2001 mas estou horrível em todas elas e invariavelmente tem algum namorado junto (pois todos gostavam deles, afinal, meus namorados eles sempre souberam paparicar).

Tem várias no meu aniversário de 15 anos mas me recuso a postar isso, pois tenho ódio desse dia. Festa cafona, não era minha vontade e ainda queriam que eu ficasse acordada até tarde. um dia pra esquecer.

Peguei uma foto velha mesmo e trouxe e, é claro, quem viu estranhou e perguntou porque não tinha trazido uma foto nova.

Expliquei que não tiro fotos com minha mãe há muitos anos, já que a gente não se dá tão bem assim e não passamos muito tempo juntas.

Tenho dúvida que um dia a gente venha a se dar bem de verdade. Até porque muita coisa foi perdida, muitos laços não foram criados e agora, sinceramente, acho que é tarde demais. Além disso, ela é orgulhosa e pensa demais nela, só o que ela pensa tá certo e é bem inflexível. Certamente um pouco disso eu puxei dela, mas fazer o quê.

Por isso escolhi a foto antiga. Da época em que a gente ainda se entendia.


Olha eu aí. E ela.

Pra quem não tem esse tipo de problema ou neuras, um feliz dia das mães e curtam muito.

No comments:

Post a Comment