Amigo é coisa pra se guardar... onde mesmo?
Tive uma saudável DRA com minha melhor amiga (Discussão de Relacionamento Amizade) onde ela, típica amiga ciumenta, afirma reclama que "Twitter" é um antro de solidão.
De uns tempos para cá, virei habituée do twitter e ali reencontrei amigos de longa data como o Homem-mel e sua adorável esposa, que tenho o prazer de conhecer há mais de dez anos, Dos áureos tempos de BBS. Sem mencionar antigos conhecidos, com quem estreitei laços e novos amigos que fiz
BBS quem? Era o que eu mais ouvia. Todo mundo entende o que é internet mas ninguém consegue compreender o conceito de BBS. Pra mim BBS era como a internet de hoje, só que limitada a certo número de usuários. Podia-se banir os incovenientes. Bons tempos...
A época do BBS foi mágica para mim. Estava na faculdade e tudo era mais complicado, amigos morando muito longe, sonhos diferentes, culturas e programas diferentes e tal. Os amigos de escola se dispersaram, outros cursos outras patotas. Aí entrou o BBS em minha vida.
O que começou com uma mensagem através da conta do meu irmão, revoltada com uma mensagem machista em um dos fóruns fez com que eu quisesse, semanas depois, abrir minha própria conta!
Naquele tempo a internet ainda era discada, modem de 9.600kbps e por uma módica assinatura de R$ 29,90 tínhamos direito a UMA hora diária de acesso. Impensável para quem hoje em dia fica online quase o dia inteiro, seja no trabalho, seja em casa e até mesmo no celular.
O bacana mesmo era a troca de mensagens: conectava-se de manhã, de tarde e de noite e, utilizando-se de programas como Blue Wave e OLXwin, baixávamos os chamados pacotes de mensagens e podíamos ler e respondê-las offline, economizando os preciosos minutos diários. O restante? Havia um pífio chat online, divertidíssimo por sinal e arquivo para onde podíamos enviar programinhas úteis, textos, fotos.
Apesar de ter direito a apenas uma hora, o computador era um só, a confusão imensa ao ponto de o mesmo ter sido rachado (literalmente) entre eu e meu irmão e foi aí, em meados de 1997, que montei meu primeiro PC.
No início, RIAM, eu não tinha HD. Tinha um disquete com o básico para o computador ligar (autoexec.bat, command.com e um outro arquivo cujo nome não me lembro) e, a partir dali, usando um programa no mesmo disquete, baixava o pacote e respondia no mesmo disquete. Felicidade pouca é bobagem! Meses assim até meu padrinho me doar um HD de 500 Mb, que, aliás, ainda conservo lá em casa, com as fotos dos encontros do BBS.
O tempo se passou e o virtual passou para o real; feitas as amizades, passamos a interagir. Haviam encontros semanais, depois mensais, rodízios de pizza, praia, tudo era motivo para uma reunião da galera. Isso em tempos que praticamente não havia celular (meados de 1995-1998), poucos o tinham e o serviço, alem de precário, era caro.
Foi uma das melhores épocas da minha vida. Nunca fiz tantos amigos como no BBS. Muitas das pessoas com quem mais converso vieram de lá, até hoje. E olha que alguns deles não moram mais no Brasil. Tenho pouquíssimos amigos de escola ou de faculdade com quem mantenho laços tão estreitos. Amigos que fiz por aí então, nem se fala. Conto nos dedos.
Em meados de 1996, me lembro como se fosse hoje, o BBS começou sua migração para serviço de provedor de internet e começaram a “sortear” os acessos por uma fila de espera. Sim, era mais disputado do que linha da Telemar! Tinha sorteio! E aos poucos o BBS foi ficando vazio.
Creio que o antro foi desconectado do mundo em meados de 1998 ou 1999. Chegaram a manter os arquivos disponíveis através de telnet (acessando pela internet), eu mesma utilizei até meados de 2000, mas perdeu a graça. Perdeu a função de unir as pessoas. E o povo sumiu no mundo.
Muita gente não caiu no esquecimento graças ao ICQ. Como internet era novidade, quem não tinha passado pelo BBS não sabia dessas “novidades”, então, com um nome e sobrenome, às vezes um apelido, você conseguia encontrar os velhos amigos. Internet era “elitizada”, então, não havia aquela profusão de contas, fakes e gente desocupada; logo, era fácil achar alguém, mesmo os que tinham vários homônimos. Aí veio o MSN e o mundo começou a girar rápido demais.
Muitos se reencontraram no Orkut, no Facebook, mas confesso não tem o charme e o barato do BBS, não mesmo. Sua única função é ser um bom ponto de encontro de velhos conhecidos, mas quando mais a tecnologia avança, mais o ser humano fica ávido por fofoca e pela vida alheia, gente inescrupulosa fica querendo saber da sua vida, podendo até lhe querer mal. O que era pra ser diversão vira exposição. Você pode estar em perigo. Você está sendo vigiado!
E aí chegamos ao o twitter.
Eu estava no
Blip há algum tempo, apresentado por um amigo. Mero conhecido na época do BBS, tive o prazer de reencontrá-lo no Facebook e ele me apresentou ao vício. Um site, com arquivos de música que você pode puxar, organizar numa playlist e até baixar com certos programas. Conheci o sistema de “reply” através do qual, quando você escrevia após uma @ o “nick” de uma certa pessoa, aquela música e sua mensagem eram transmitidas às pessoas. Fiz várias amizades lá.
E dali um belo dia me apresentaram o
Twitter... um
Blip sem música! Um “microblog” para alguns, onde você começa comentando algo, ao léu e aqueles que te “seguem” comentam em retorno. A partir dali, já vi de tudo: desabafos, pedidos de opinião, pesquisas, cantadas, até mesmo ajuda, procura de profissionais e, porque não, piadas!
E começaram os encontros... e me vi de volta ao mundo do BBS, só que, agora, muito mais dinâmico. Mais prático que um Messenger e sem piscar o tempo todo na sua cara as informações chegam, você faz triagem, responde, acompanha. Muito mais light, sem neura, sem pressão.
Depois do twitter meus finais de semana solitários acabaram.
Estou naquela fase em que todos os meus amigos vão casar, estão casando, acabaram de casar ou estão grávidos ou com filhos pequenos. O tempo encurta, a grana aperta. E eu no auge da vida, solteiríssima, cheia de energia, folgada financeiramente mas sem tempo e sem ter onde gastar.
Cansei de passar finais de semana em casa, às vezes jogada na cama vendo TV, a maior parte do tempo na internet. Perdi vários finais de semana de sol, exceto aqueles em que minha dileta amiga podia me acompanhar, afinal, dois empregos, um deles no esquema de plantão, nem sempre é possível. Pois quando era ela sempre deu um jeito.
Uma bela manhã estou lá twittando sobre o sol e decidi ir à praia! E homem-mel veio me acompanhar. Uma segunda vez marquei com uma amiga e ele veio também, rimos até dizer chega.
Algumas praias depois já estava convocando amigos do twitter que nunca tinha visto e que chamavam outros amigos... sabe aquele domingo que você não tem NADA pra fazer? Sempre rola um almoço. Um cinema. Barzinho. Até encontro só de mulherzinha já teve e DEU CERTO (olha que eu sempre achei que muita mulher junta não dá certo). Daí, Karaokê, fala-se em Paintball, até companhia para viagem arrumei. Isso tudo em cerca de 6 meses.
Eu me sinto renovada!
Os amigos antigos não deixam de ser amigos mas o melhor meio de me contactar há 10 anos pelo menos é a internet. Email NUNCA falha. Tenho contato mais freqüente com os amigos que usam a internet com habitualidade do que os demais. Telefone não é mais meio de contato, é o verdadeiro meio de recados e mensagens rápidas.
É claro que eles não ficam largados: ligo nos finais de semana, escrevo (eles respondem às vezes semanas depois). Aniversários sempre aviso, vou nos deles, nos encontros que eventualmente rolam. É maravilhoso mas eu preciso de mais.
Às vezes, de fato, quero ficar só, mas em geral, eu sinto falta de companhia.
Durante anos deixei de fazer muita coisa por não ter companheiro para a atividade; de uns anos para cá surtei e comecei a fazer tudo sozinha: cinema, teatro, futebol no maracanã, até viajar sozinha.
Louca? Louca eu era quando ficava em casa! Mas isso não supera a falta de amigos mais presentes.
Eu não acho que a internet seja lugar de gente solitária. Ninguém quer ser só, isso é fato.
Só que cada pessoa tem o seu jeito de preencher esse vazio, esta necessidade de companhia e atenção. Alguns gostam de conhecer gente na balada, na praia, em atividades esportivas, eventos. Outros preferem conhecer gente no mundo virtual e, se amizade se estreita, traz ela no mundo real. Eu acho até melhor pois você conhece de antemão quem realmente tem a ver com você, tem os mesmos gostos e interesses.
Minha amiga que me perdoe, mas se twitter for coisa de gente solitária, TODO programa é coisa de gente solitária, a partir do momento que você sai para conhecer gente.
Esta mesma pessoa conheceu um grande amigo meu, que foi quem nos apresentou através do ICQ. Foi grande freqüentadora da “linha cruzada”. Foi a primeira pessoa que me apresnetou um site de relacionamenos (vulgo PP).
Um dos meus grandes amigos é estrangeiro, mora na Europa, conheci através da FIDONET, ainda na época do BBS, meados de 1996. Mantivemos contato permanente por email, depois skype e no dia em que nos conhecemos pessoalmente, em uma de minhas viagens, agíamos com tanta naturalidade que quem nos via realmente acreditava que éramos amigos de anos e tínhamos uma grande amizade. Mas não entendiam como foi possível criar tal laço sem que a amizade fosse presencial.
Tem gente que não gosta de blog e diz que é porque não gosta de se expor. Acha ridículo.
Ora, quem acha que escrever em blog gera exposição, não deveria ter um Orkut aberto, com quinhentas fotos que qualquer pessoa pode ver, com trocentos recados enviados abertos ao público, mostrando comunidades que dão dicas do seu estilo de vida, locais que freqüenta, gostos e etc. Nesse mesmo lugar escreve sobre si, fala sobre o que espera de relacionamentos, primeiro encontro ideal... Nem freqüenta sites de relacionamento.
Se blog é exposição... o Orkut é como uma prostituta de microssaia e sem calcinha, se olhar você enxerga o ÚTERO. Por isso que Mary não tem orkut.
Acham estranho ver as pessoas nas fotos dos encontros twittando com celulares na mão. Saber que os outros fazem isso durante eventos. Uma vez me recriminou por estar lendo os meus twits pelo celular e tirando fotos para postar. Mas na última ocasião, quando me viu morrer de rir, ficou cheia de curiosidade.
Quanto ao Nick eu acho interessante e importante. Escrevo o blog para mim, amigos, eventual fãs. Não vou deixar rastros da minha vida para desconhecidos. Tenho o direito de reservar meus pensamentos a quem eu quiser. Acho que o anonimato preserva meu direito de reclamar e me revoltar com quem quer que seja. Até por que, macaca velha que sou, nunca dou nomes aos bois.
Basta dizer que uma amiga recentemente foi processada por um médico só porque comentou em seu blog sobre o PÉSSIMO atendimento que lhe foi prestado. O que ela fez foi um serviço de utilidade pública, alertando os demais mortais.
Se todos corremos para contar o que é bom, porque não podemos falar sobre o que não é? E me ENOJA saber que o juiz ignorou o prejuízo por ela sofrido em decorrência do mau atendimento e do sofrimento causado. Pois para ele, só deveria se manifestar sobre a violação da honra do médico. Desde quando pessoas como esta tem que ter a honra defendida?
Mas ele que aguarde, pois a prova que ele produziu contra minha amiga certamente será usada contra ele, em outro processo, por negligência médica. Vai pagar em dobro pelo que fez a ela, assim espero.
Mas enfim, concluindo:
Sinceramente, eu não sou mais solitária do que ela ou ninguém, pois estou sempre querendo fazer amigos, buscando companhia.
Solitário é aquele que, se sentindo só, nada faz para mudar e aceita sua solidão.
Não importa o meio para sair da solidão. Importa a atitude.
E você o que acha? Comente! Deixe sua opinião aqui, pois depois imprimirei e levarei para a dita amiga, só para irritá-la.
Você, meu leitor tímido ou que me manda emails ao invés de postar publicamente, me diga o que acha, como se sente. Conte suas experiência, histórias.
Se você quiser me irritar também, pode usar o email marygarotatpm@gmail.com ou me acompanhar pelo twitter, onde atendo pelo nick @marytpm.
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DISCLAIMER: Eu não faço faculdade de psicologia, não conheço quem faça e nem pretendo fazer. Este texto, comentários e posts não serão utilizados em pesquisas e o direito autoral é e deverá ser sempre preservado.
Na pior das hipóteses não se esqueçam que eu sou advogada. Mexeu com meu leitor é processo!
Atenciosamente,
Mary
PS: Apenas um Adendo: para mim, Twitter, Facebook, chats. Orkut, sites de relacionamento tem o mesmo objetivo: aproximar pessoas. Fiz a alteração de "Internet" para "Twitter" pois ela disse que estava mentindo e sendo desonesta, portanto, alterei.
Mas isso de forma alguma altera o sentido.