Monday, June 21, 2010

Mulheres e seus sapatos

Acho que fui a única criança da história com trauma de sapatos de salto.

Subi poucas vezes nos da minha mãe, porque achava bonito. Enquanto a maioria das mães achava isso lindo, a minha dava esporro, pois aquilo não era coisa pra mim e eram grandes demais E depois de muito esporro, desisti e aceitei. Até porque mesmo crescendo e ultrapassando minha mãe em mais de 10cm, eu calço exatamente um número a menos que ela, ou seja, os sapatos dela nunca seriam meus.

Até uns 15 anos eu só usava tênis. Não tinha sapato, salvo aquele boneca cafona que usava na escola, pois fazia parte do uniforme. Tênis ou havaiana. Não tinha mais que 4 pares de calçados naquela época, era feliz e não sabia.

Mas me recordo das tantas vezes que olhava a parte de baixo do meu armário, via ali meus poucos pares e me questionava como conseguia viver com tão poucos. Chegava ao ponto de guardar sapatos que não usava ou velhos sapatos de minha mãe só para fazer número.

Na formatura da 8ª série e quando fiz 15 anos e fui obrigada a usar vestido cafona e um sapato com saltinho mínimo me senti uma mistura de alien com predador. Sem mencionar que na segunda ocasião ainda tive que frequentar uma festa. Em minha homenagem.

Ah sim, e na formatura de 2º grau comprei oficialmente meu primeiro sapato com saltão, mas alguma plataforma na frente, incentivada pelo meu então namorado. Era linda, mas passei a noite inteira sentada, com meio de cair e, alguns anos depois, acabei doando a dita cuja.

Passei anos nessa vidinha simples e confortável, sem saber o que eram calos, bolhas e outraz mazelas que acometem os pés das pobres coitadas que vivem em cima do salto. Minha vida era feita por tênis, mocassim, chinelo. Às vezes um ferrado e um bom conforme a ocasião.

Só quando entrei para a faculdade de direito comecei a mudar um pouco. Isso lá pros meus 22 anos. Foi quando descobri as sandálias de dedo e rasteirinhas, que podem ser tão confortáveis quando, sendo a única desvantagem que seu pé fica imundo e era isso o que usava quando comecei a estagiar. Pressionada pela conduta habitual de vestimenta em minha carreira, fui obrigada a ir incrementando o meu armário, que nessa época já devia contar com uns 6 ou 7 pares, contando as sandálias.

Achar sapato sempre foi um tormento. Calço 34, às vezes 35. Meu pé é muito fino e meus anos calçando só tênis ou sandálias de tirinha folgadas me deixaram intolerante a sapatos completamente fechados, com muito salto, pois não sei me equilibrar, sem contar que odeio a sensação dos pés escorregando pra fora do sapato, dedinhos fazendo pelas tiras, sapato apertando no pé...

Meados de 2000 havia a moda de sandálias anabela cujo salto era, cuja elevação era de 2 ou 3 dedos e confesso que me sentia super confortável. Comecei a usar, inclusive algumas mais altas em função da elevação na frente, compensando. Até porque namorava um rapaz de mais de 1,90m e ficar mais alta poupava meu pobre pescoço.

Mas definitivamente foi a abertura. A partir daí comecei a comprar sapatos com 2, 3 dedos de saltinho no máximo e encontrei meu limite de tolerância entre equilíbrio e conforto pra andar. O que não significar que compra sapato não seja um suplício.

E TODAS as vezes que tento comprar algum sapaton acima de 3 dedos... me decepciona. Os dois sapatos da minha formatura de faculdade são assim. Só servem para que eu fique sentadinha. Um dos sapatos que comprei para ir a um casamento idem. E o que dizer de um scarpin LINDO que comprei na Lakrizia só porque estava de R$ 189,00 por R$ 109,00?? NUNCA consegui usar, só experimentar em casa. Calçado no pé é lindo e divino. Andando é desastroso.

E eis que eu cometo MAIS uma loucura: precisando de um sapato vermelho, para combinar com um vestido, com saltinho, depois de peregrinar por várias lojas, me deparo com um na cor que eu gosto, no estilo que eu gosto, salto mais grosso, só que mais alto do que eu estou acostumado.

E num preço bom. tento evitar, as a vendedora coloca o sapato no meu pé e me sinto a cinderela: ele serve perfeitamente, é lindo e confortável. E abertinho na frente como gosto. Comprei-o-o.

Isso foi antes das férias.

Chego hoje para trabalhar, não acho o sapato marron tradicional e me arrisco: vou usar o vermelhão. Pego o cinto marrom e vermelho para combinar e saio, na tentativa de ser feliz.

A boa notícia é: o bichinho É confortável e gostoso. É estável e fica lindo no pé.

Mas pqp, como CANSA andar de salto mais alto! A postura muda, não sei explicar! Talvez meu estado obeso tenha alterado meu centro de gravidade. O caminho casa trabalho que faço em 7 minutos fiz em 15 e cheguei aqui esgotada e já tireio o sapato do pé. Chega a dar medo.



Se isso ao menos for considerado exercício, terá valido a pena.

Quem nasce pra ser jeca, por mais que ganhe grana nunca vai ser phina.

Quando comprei minha sapateira, para colocar somente os sapatos, contava com 28 pares. Hoje em dia tenho mais de 40 pares e estão apinhados. A grande maioria sapatilhas ou sapatos peep toe (abertinho na frente), o que garantem meus lindos pézinhos ainda livres de calos e deformidades. E fora dali ainda tem:

2 botas: uma de salto (que não usa) e uma sem salto
1 bota de trekking
4 pares de tênis (sendo 2 de corrida e um All Star)
8 pares de havaianas

C´est la vie...

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