Nesta última sexta-feira chuvosa, ingressos que ganhara dias antes, resolvi assitir a supracitada peça no teatro do SENAI, encenada pelo grupo Nós do Morro.
Tomei meu gardenal pra não ficar irritada com a chuva que chove sem parar e fui, tentar aplacar meus ânimos.
O ingresso não falava muito sobre o tema da peça e, quanto ao grupo, sempre ouvi falar bem, não só do cunho social que levou à formação do grupo (levar teatro e cultura aos moradores da favela do Vidigal) bem como a qualidade de atores ali descobertos e a criatividade com que montam seus espetáculo.
E realmente são criativos.
Lá chegando, pego um prospecto e vejo que a montagem é baseada no conto de Machado de Assis chamado "O Alienista".
Do pouco que me lembro de quando li o conto, no auge dos meus 12 ou 13 anos de idade, e que me fez gostar de Machado de cara, me recordo que tratava-se de um provável retrato irônico e crítica sobre o método de tratamento das pessoas portadoras de doenças psiquiátricas a época.
Em tempos em que provavelmente a medicina não era tão especializada em ramos como hoje, a não ser, provavelmente, clínica e cirurgia, um médico vindo da europa e conceituado em Portugal e Espanha resolve estaelecer-se e clinicar no Brasil, na então Vila de Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro.
Tão logo chega e aclamado pela sociedade, tendo muito interesse em estudar as doenças da mente e da alma, pede permissão para criar a casa verde, uma instituição para albergar os doidos de toda espécie onde ele deseja estudá-los melhor e obter grandes avanços na medicina e lançar a cidade de Itaguaí no hall da fama, já que não existe no Rio de Janeiro, quiçá no país, hospital especializado nesta doença.
As instituições são equiparadas a um verdadeiro presídio onde os loucos são aprisionados em prol do avanço da medicina, comum na Europa mas novidade no Brasil, onde os loucos são cuidados em casa e andam livres pelas ruas.
E a partir daí começa a enquadrar na instituição todos aqueles que entendem possuir algum grau de loucura a ser tratada e estudada.
A partir daqui contarei detalhes sobre a peça e a história, portanto, continue po sua própria conta e risco. Depois não vá se irritar pois eu avisei.
O teatro do SENAI é mínimo, simples. Palco pequeno. Não há lugar para músicos.
Entramos com as cortinas já abertas, dois cabideiros, escadas, quatro ou cinco cadeiras do lado direito do palco e uma cadeira de barbeiro.
O teatro escurece e quando as luzes estão voltando, atores no palco e... música! Parte dos atores também é músico e toca instrumentos muito bem, alojados nas cadeirinhas na lateral do palco, primeira surpresa agradável.
Graças aos cabideiros, a peça é bem dinâmica, no meio da confusão de atores no meio dos palco as araras circulam e os personagens aparecem com acréscimo nas roupas. Poucas roupas por sinal. Os figurinos são bem simples, modestos mesmos, parecem até roupas bem velhas catadas em brechós.

Tudo isso num minúsculo palco, praticamente sem cenário e com poucos elementos de palco. Criatividade 10. Gostei muito da adaptação simples despretensiosa e despojada que foi feita.
Só não gostei muito de alguns poucos nús que aparecem na peça. Desnecessários e que no meu humilde entender não tem a ver com o escopo da história.
A medida que a peça se desenrola, Simão Bacamarte, o médico, personagem principal, começa a ver a loucura em cada um a seu redor e "enquadra-os" literalmente, mandando-os para a casa verde, representada por uma série de molduras no fundo do palco que representam as janelinhas da casa verde.
O enquadramento feito com uma... moldura.
Detalhe para a cena em que já tando enquadrado 4/5 da população de Itaguaí o médico começa a pensar. Chega na beira do palco e começa a olhar a plateia . E olha para a moldura. Olha para nós e volta ao fundo do palco e volta com umas dez molduras penduradas no braço encarando todos nós.
MEDO.
Achei que nesse momento fosse acontecer um momento interativo e ele iria sair sair enquadrando espectadores da platéia para preencher as janelas da casa verde, o que felizmente não aconteceu.
Enfim, agradou.
Bom, bonito e barato, ingressos a R$ 20,00 são convidativos.
Se vc não espera uma superprodução, vai ama e ainda por cima leva um leve musical, muito agradável.
Recomendo fortemente.
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